exposições - "Em Tempo de Criatividade A Expressão de Sentimentos"

3 Maio - 26 Maio 2011

Galerias: MAC álvares cabral

Artistas: Hilário Teixeira Lopes

Hilário Teixeira Lopes é um pintor inquieto, passando por períodos estéticos diversos, desde a abstracção à figuração, do expressionismo à nova-figuração, tendo sempre presente um forte sentido geométrico nas suas composições. Quando em 1965, ganha o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso – o mais importante prémio de pintura instituído em Portugal na altura – a sua obra começou a evoluir num sentido cromático pleno de intensidade expressiva, em que os volumes são rigidamente definidos em cores planas e o movimento é dado por múltiplas dicotomias, entre planos e espaços. Esta evolução culmina em 1969, quando o quadro “Rugby”, conquista o Primeiro Prémio de Pintura na II Bienal Internacional de Desporto em Belas Artes (Madrid). Nessa ocasião, toda a crítica madrilena foi unânime em reconhecer a justiça do prémio e em verificar que o pintor português era incontestavelmente um dos casos mais promissores da pintura contemporânea. O galardão conquistado confere novos estímulos ao pintor que rapidamente começa a trabalhar na procura de uma solução pictórica, coerente com a sua produção anterior, mas que agora se apresentava plena de qualidades matéricas, onde a exaltação da cor é dada por matizes diversos: da sua paleta explodem as cores quentes do sol e da terra, do sangue dos homens e do azul sideral dos astros. Na pintura de Hilário Teixeira Lopes, as cores assumem-se como instrumentos, teclados e finas cordas distendidas, construindo na tela uma composição ritmada, impulsiva e vibrátil. Numa dança de cor, mancha e forma, somos envolvidos numa orquestração cromática, onde a noção de tempo musical é indissociável da linguagem plástica do pintor, assumindo-se como modo de apropriação espacial, criando ritmos e andamentos cromáticos. Esta noção de tempo e ritmo musical surge logo no processo de trabalho, no gestualismo rápido da aplicação da cor, na pincelada larga e expansiva que o pintor transmite à tela, na metamorfose lumínica com que Hilário anima e ilumina o espaço estanque, tradicionalmente assumido pelo suporte da tela, em repentinas erupções de cores agudas e gestos de impulso. O nosso olhar segue o cerne ondulatório desse movimento e desta dinâmica vive o pulsar de um estado de paixão. Depositário de um tesouro de instantes e de formas, Hilário Teixeira Lopes revela-se em espaços e tempos diversificados, mostrando-se capaz de preservar a memória de acontecimentos múltiplos, que não têm outra existência para além dos vestígios que deles subsistem. Possessiva, intuitiva e apaixonada, a pintura de Hilário Teixeira Lopes reconduz-nos musicalmente ao ritmo da criação e ao gesto, no mais límpido exercício da comunicação humana.