exposições - "Histórias de outras dimensões"

10 Setembro - 30 Setembro 2010

Galerias: Oficinas de Formação e Animação Cultural de Aljustrel

Artistas: Teresa Mendonça

A pintura de Teresa Mendonça é uma demonstração de profunda sensibilidade e amadurecimento desta arte a que se dedica. A sua linguagem plástica é marcada pela originalidade através de um jogo de alusões, ocultações e associações aparentemente sem nexo, que apela à experiência existencial do observador, arrastando-o para desafios que deseja enfrentar, como se fizesse parte desse mundo ali proposto. As suas telas mostram exercícios de criação cromática, dos quais uns derivam de sistemas de aprendizagem e outros do próprio comportamento emocional da artista com a pintura, verdadeiramente demonstrativo do empenho, do ensaio e da vontade com que Teresa Mendonça enfrenta a intimidade do espaço, da cor e da luz, na ânsia de repensar a arte e o refazer artístico. Podemos assim dizer que numa aposta constante da artista e presente em cada obra, o espírito é transmitido à matéria e dela é extraído o seu espírito numa diferença real entre o material e o espiritual. A Arte é sempre a penetração da nova realidade, a retirada das cortinas do mundo visual e a reflexão do espaço misterioso. Não há Arte sem mistério. Mas Teresa Mendonça não está de forma alguma ocupada com um estudo da natureza e muito menos tenta dar uma impressão óptica de uma paisagem concreta. “Absorver-me no espaço natural” diz a artista, “ajuda-me a encontrar um espaço metafísico e alternativo”. Ao fazer isto, o olhar sensível da artista escolhe de entre a vasta multiplicidade de linha e cores existentes, unicamente aqueles motivos orientadores que a atraem pela sua novidade e lhe suscitam vagas e excitantes associações. A cor densa da têmpera, enquanto material que veicula a cor, parece emanar, algures de dentro, abrindo caminho através da superfície abstracta da tela branca e exigindo uma estética das relações cromáticas completamente diferentes, provocando na artista, audaciosas improvisações e fortes impulsos no seu trabalho de concentração, frente ao cavalete no seu atelier, fazendo-a elaborar obras autónomas de grande expressividade e forte intensidade criadora. O mundo da cor vai assim ganhando forma, coincidindo com o universo artístico de Teresa Mendonça. Nele as formas do micro e do macro-mundo flúem incessantemente em conjunto e coexistem com os elementos de diferentes dimensões, volumes e planos, nas mais diversas configurações. Uma tal composição capta inevitavelmente uma parte acidental do infinito. De um modo semelhante a uma membrana celular, os seus trabalhos permitem-lhe levar a cabo, uma espécie de troca energética com o mundo externo. Todas as obras deste seu ciclo, são variações do mesmo motivo paisagístico. O cenário de tal tarefa está ligado a uma tentativa de encontrar todas as soluções possíveis para pintar uma única ideia textual através do enriquecimento da gama de associações com ecos do passado e do presente. Nestes seus quadros o elemento de abstracção é claramente intensificado. Teresa Mendonça, alcança os mais variados e inesperados efeitos utilizando um arsenal de meios pictóricos. Por vezes a artista domina a massa de cores; outras vezes, é ela quem se submete à sua fúria tempestuosa. A multiplicidade dos modos como Teresa Mendonça concebe os seus quadros, oferece-nos o testemunho da luta da artista com a tela. Uma reincarnação mágica, parece ter lugar mesmo perante os olhos dos espectadores. É desta capacidade de sofrer fantásticas transformações, que a massa de cores está dotada, na sua subordinação à vontade duma criadora que se chama Teresa Mendonça e cujas obras são particularmente atraentes e inimitáveis.