Moisés

Moisés nasceu em Almada em 1963. Como bom portugues fala da História como se esta estivesse a acontecer agora mesmo e é, na realidade, com toda a calma que se insere nela como mais um elo na sua cadeia. Por isso os personagens de Moisés – os da sua galería – são, muitas vezes, o tema da sua obra: desde o Santo Condestável, Nuno Álvares Pereira, até às figuras deslumbrantes de Luís de Camões, poeta entre os poetas, ou o incomensurável Fernando Pessoa; nas suas obras de pequeno formato, como são os seus cavaleiros, as suas fadistas ou o seu São Miguel, sempre os presenteia com uma cinzelada de um delicado e paródico humor, entre o cáustico e o elaborado, aliás, como o próprio Moisés. Trabalha fundamentalmente o mármore e as pedras ornamentais – sempre de origem portuguesa, como a sua própria imaginação – e, quando trabalha em grande formato, de vez em quando, como num arranque de ousadia, mistura metais, que faz surgir dos mármores como por uma lógica definitiva que não admite discrepância nem objecção nenhuma. Mas Moisés sobe um degrau mais da ousadia e chega à água, a água como parte das suas esculturas: fontes, lagos, e quem sabe até nascentes e rios… Moisés é o seu nome – também artístico – e, surgido das águas, como uma mais que provável raíz mediterrânica e um olhar claramente atlântico, a água não pode deixar de ser um elemento natural de trabalho. Não sei se a isso se propõe, mas se os personagens da sua galeria comovem-nos, nas suas obras de grande formato, Moisés obtém uma interacção, conseguindo que todos os que as contemplam formem com elas um todo vital, aprisionados pela sua aura, numa estranha mistura de curiosidade e desconcerto. Moisés também interactua, insere-se, como um elo mais na sua cadeia de mitos e personagens polidos por uma subtilíssima ironia, e o seu rostro, como o dos seus heróis, tem o aspecto ausente dos que tudo observam, imortalizando liberdades, conquistas, páginas e sonhos.